Viagem aos Céus: Memórias de Soltar Pipas na Infância
Quando fecho os olhos, sou imediatamente transportado para os dias dourados da minha infância, quando soltar pipas era mais do que um simples passatempo — era uma aventura que me conectava ao céu e ao vento. Acordar cedo, sentir o frescor do orvalho matinal e correr para o quintal com uma pipa colorida na mão era o prelúdio de dias repletos de liberdade e alegria.
Meu primeiro encontro com uma pipa foi de grande alegria. Eu devia ter uns seis anos, ainda pequeno, mas cheio de curiosidade e energia. Meu avô, um artesão habilidoso, passava horas confeccionando pipas com uma precisão meticulosa. Seus dedos calejados moviam-se com graça e habilidade, cortando o papel de seda e moldando a estrutura de bambu. Eu observava fascinado, cada movimento gravado em minha memória como uma doce lembrança.
Finalmente, veio o grande dia. O céu estava claro, sem nuvens, e uma brisa suave soprava constantemente, o cenário perfeito para meu primeiro voo. Meu avô e eu caminhamos até um campo aberto nos arredores da nossa casa. Ele segurava a pipa com uma mão e a linha com a outra, e me ensinava pacientemente os segredos para um lançamento bem-sucedido.
"BenYah-El", ele dizia, "soltar pipa é uma arte. Requer paciência e precisão. Você precisa sentir o vento, deixá-lo guiar a pipa, não forçá-la."
Com o coração acelerado e os olhos brilhando de expectativa, segui suas instruções. Lentamente, fui liberando a linha, sentindo a pipa ganhar vida conforme se afastava de mim. Houve um momento de tensão, um breve instante de incerteza, mas então ela subiu, dançando graciosa no ar. A sensação de conquista foi indescritível. Era como se eu também estivesse voando, livre de todas as amarras.
Conforme os anos passaram, soltar pipas tornou-se uma tradição constante. No bairro, éramos um grupo de meninos e meninas, todos ansiosos por brincar. Cada pipa tinha uma personalidade própria — algumas eram rápidas e ágeis, enquanto outras flutuavam majestosamente. Havia também as competições amistosas, onde o objetivo era cortar a linha das pipas adversárias. Era um jogo de estratégia e habilidade, onde cada movimento era crucial.
Lembro-me especialmente de uma pipa que eu mesmo fiz. Era uma obra-prima de improvisação, feita com pedaços de papel colorido que encontrei em casa e reforçada com hastes de bambu. Levei dias para finalizá-la, ajustando cada detalhe com cuidado. Quando finalmente a lancei ao ar, a sensação de ver algo que eu mesmo havia criado alçar voo foi incrivelmente gratificante.
No entanto, soltar pipas não era apenas sobre competição ou técnica. Havia uma profunda conexão com a natureza. Sentir o vento em meu rosto, ouvir o farfalhar das folhas e observar as nuvens passarem enquanto a pipa dançava no céu era uma forma de meditação. Era um tempo para refletir, sonhar e deixar a imaginação correr solta. Muitas vezes, deitado na grama, olhava para o alto e imaginava histórias fantásticas, onde as pipas eram navegadores dos céus, explorando mundos desconhecidos.
Também havia lições importantes a serem aprendidas. Cada vez que uma pipa caía, era uma oportunidade para aprender sobre resiliência. Levantar, consertar e tentar novamente faziam parte do processo. Aprendi que o fracasso era apenas uma etapa do caminho para o sucesso, uma lição que levo comigo até hoje.
A amizade também florescia nesses momentos. As tardes no campo eram cheias de risos, conversas e camaradagem. Compartilhávamos truques, ajudávamos uns aos outros a resolver problemas e comemorávamos juntos cada sucesso. Esses laços, forjados ao sol e ao vento, eram inquebráveis.
Com o tempo, as responsabilidades da vida adulta começaram a ocupar mais espaço, e as pipas foram gradualmente ficando em segundo plano. No entanto, as memórias daqueles dias permanecem vivas, uma lembrança constante de uma época mais simples e pura. De vez em quando, quando vejo uma pipa no céu, sou transportado de volta a essas tardes de verão, e um sorriso inevitável surge no meu rosto.
Soltar pipas na infância foi mais do que uma brincadeira; foi uma experiência formativa que me ensinou sobre paciência, resiliência, amizade e a beleza da humildade. Essas lições, aprendidas sob o vasto céu azul, são tesouros que carrego comigo, eternamente grato por esses momentos de minha juventude.
E assim, sempre que vejo uma pipa dançando no céu, lembro-me de que, apesar de tudo, ainda há alegria no mundo, e que, por um breve momento, tive o privilégio de tocar o uma doce lembrança.
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