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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Brincadeiras ao Vento: Memórias de Pipas e Canções

 



Brincadeiras ao Vento: Memórias de Pipas e Canções

Era um dia ensolarado de verão, típico de dezembro no interior do Brasil. As férias escolares tinham acabado de começar e, com elas, a liberdade de dias inteiros dedicados a brincadeiras ao ar livre. Na pequena cidade onde cresci, os campos eram vastos e os céus, infinitos. A paisagem, verde e dourada, parecia convidar-nos para aventuras sem fim. Entre todas as diversões, soltar pipas era a minha favorita.

Logo pela manhã, antes mesmo do sol atingir seu auge, eu e meus amigos já estávamos reunidos no terreno baldio que se estendia além das casas. Carregávamos nossas pipas feitas à mão, cada uma mais colorida que a outra, adornadas com fitas que dançavam ao sabor do vento. Havia algo de especial na preparação dessas pipas; escolhíamos cuidadosamente o papel, as varas de bambu, e as linhas, que eram enroladas com tanto cuidado quanto a tecelagem de um sonho.

Enquanto nossos pés corriam pela grama, tentando alcançar a brisa perfeita para levantar nossas criações, um som familiar preenchia o ar: o rádio portátil de Pedro, nosso amigo mais velho, sempre presente nas nossas aventuras. Ele carregava consigo uma seleção de fitas cassete que variavam entre os clássicos brasileiro e os ritmos da MPB. Cada música parecia sincronizar-se perfeitamente com o movimento das pipas, criando uma trilha sonora inesquecível para nossos voos juvenis.

O vento forte a carregava para longe, desenhando curvas e círculos no céu, como se estivesse dançando ao som da música. Aqueles momentos, simples e livres, pareciam encapsular a essência da felicidade.

Enquanto corríamos para evitar que as linhas se entrelaçassem, a música mudava. A melodia suave e introspectiva contrastava com a nossa energia, trazendo um toque de serenidade ao nosso pequeno caos. À medida que a tarde avançava, a luz do sol começava a dourar o horizonte, e as pipas, agora bem alto, pareciam pequenos pontos coloridos flutuando em um oceano de tons alaranjados.

Numa pausa, sentamos todos na grama, as pipas amarradas em paus cravados no chão, balançando suavemente ao ritmo do vento. Pedro, sempre com um sorriso travesso, aumentou o volume do rádio, e começou a tocar. Rimos ao lembrar das letras, imaginando como seria crescer e viver histórias tão complexas e divertidas como a da música. Para nós, crianças no auge da inocência, o futuro era um campo aberto de possibilidades, tão vasto quanto o céu que acolhia nossas pipas.

Essas lembranças de pipas e música se tornaram tesouros em minha memória. Elas representam mais do que apenas um passatempo; são símbolos de uma infância cheia de alegria, amizade e liberdade. Sempre que ouço aquelas músicas ou vejo uma pipa no céu, sou transportado de volta àqueles dias ensolarados, quando tudo parecia possível e o céu era o limite.

Com o cair da noite, nossas mães chamavam-nos de volta para casa, a voz delas cortando o ar já fresco da noite que se aproximava. Recolhíamos nossas pipas com cuidado, como se guardássemos preciosidades. Cada um voltava para sua casa com um sorriso no rosto e o coração leve, carregando as memórias de mais um dia inesquecível.

Hoje, ao olhar para trás, percebo que aqueles dias de pipas e música moldaram quem eu sou. Eles me ensinaram a valorizar os momentos simples e a encontrar alegria nas pequenas coisas. A cada verão, quando o vento começa a soprar mais forte, eu pego minha velha pipa, agora um pouco desgastada pelo tempo, e volto a soltá-la. E assim, ao som das mesmas canções que embalaram minha infância, reviver daqueles dias dourados, sentindo que, de certa forma, nunca deixei de ser aquele garoto correndo pelos campos, com os pés descalços e o coração cheio de sonhos.


Querido leitor e leitora,

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Com gratidão,

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