Campina Grande, localizada no estado da Paraíba, Brasil, é uma cidade com uma história rica e diversificada, marcada por um desenvolvimento econômico, social e cultural expressivo ao longo dos anos. Conhecida por ser um dos maiores polos industriais e culturais do Nordeste, uma cidade foi moldada por diferentes povos e culturas ao longo do tempo. Entre as influências mais importantes que ajudaram a forjar a identidade campinense é do povo judeu. A contribuição dos judeus para o crescimento e desenvolvimento de Campina Grande é um capítulo pouco explorado da história local, mas que teve um impacto profundo no comércio, na cultura e até na formação da identidade da cidade.
A Fundação de Campina Grande e o Crescimento Inicial
Campina Grande foi fundada oficialmente em 11 de outubro de 1864, mas sua história remonta ao período colonial, quando a região ainda fazia parte do vasto território do interior da Paraíba. A cidade se desenvolveu inicialmente por meio da agricultura, especialmente o cultivo de cana-de-açúcar, e mais tarde pelo cultivo de algodão, que desempenhou um papel importante na economia local.
O ponto de inflexão para Campina Grande ocorreu no final do século XIX, com a chegada da ferrovia, o que permitiu maior escoamento da produção agrícola e impulsionou o crescimento comercial. No início do século XX, a cidade se consolidou como um centro de desenvolvimento econômico, atraindo imigrantes de várias partes do Brasil e do mundo. Entre esses imigrantes, estava o povo judeu, cuja presença e contribuição foram fundamentais para a modernização de Campina Grande.
Tamanho e Importância de Campina Grande para a Paraíba
Com uma área de aproximadamente 589,56 km², Campina Grande ocupa uma posição estratégica no estado da Paraíba, sendo a segunda maior cidade do estado, atrás apenas de João Pessoa, a capital. A cidade é um dos principais centros urbanos e econômicos da região Nordeste, com um papel de destaque na agricultura, indústria e comércio, sendo conhecida como “A Rainha da Borborema”, devido à sua localização no Planalto da Borborema.
A cidade possui uma população estimada em cerca de 420 mil habitantes (dados de 2023), e sua importância para a Paraíba é inquestionável. Além de ser um centro comercial, Campina Grande é um polo educacional, com várias universidades e centros de ensino superior, como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que atrai estudantes de várias partes do Brasil. Também se destaca na área de tecnologia, como o Parque Tecnológico da cidade, que impulsiona inovações no setor de informática e telecomunicações.
O município também exerce grande influência cultural, sendo sede de eventos que atrai milhares de turistas. Isso reforça o papel de Campina Grande como uma cidade dinâmica e referência no Nordeste brasileiro, tanto no aspecto econômico quanto cultural.
A Chegada dos Judeus a Campina Grande
A imigração judaica para o Brasil teve início no período colonial, quando judeus sefarditas fugiram da perseguição da Inquisição em Portugal e Espanha. Contudo, foi no final do século XIX e início do século XX que se registrou um fluxo significativo de judeus para o Brasil, em grande parte devido à política de imigração do governo brasileiro que buscava povoar o interior do país com trabalhadores de diferentes origens.
Embora cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife tenham sido os maiores centros de acolhimento para os judeus, a comunidade também se localiza em cidades do interior, como Campina Grande. Estima-se que a chegada dos primeiros judeus à cidade tenha ocorrido por volta da década de 1920, com imigrantes oriundos da Europa Central, Europa Oriental e do Império Otomano. Esses imigrantes trouxeram suas tradições culturais e religiosas, além de um espírito empreendedor que seria decisivo para o crescimento de Campina Grande.
O Que é um Judeu Sefardita?
Um judeu sefardita é aquele que pertence à comunidade judaica originária da Península Ibérica, ou seja, de Portugal e Espanha. O termo "sefardita" vem de "Sefarad", que é o nome bíblico para a região da Espanha. A história dos judeus sefarditas é marcada por séculos de presença na Península Ibérica, onde desempenharam papéis importantes no comércio, na cultura e na ciência. No entanto, durante o final do século XV, com as perseguições religiosas da Inquisição, muitos judeus foram forçados a se converter ao cristianismo ou a abandonar suas terras e se exilar.
Em 1492, com o Decreto de Alhambra, os judeus foram oficialmente expulsos da Espanha. Muitos procuraram refúgio em outras partes da Europa, do Império Otomano e, especialmente, no Brasil, onde se estabeleceram em cidades como Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e, mais tarde, em várias cidades do interior, como Campina Grande. Os judeus sefarditas mantiveram muitas de suas tradições, crenças e práticas culturais, muitas vezes de forma dissimulada, em razão das pressões religiosas. Esses judeus foram conhecidos como "marranos" ou "cristãos-novos", uma referência aos que se converteram ao cristianismo mas aperfeiçoaram a prática de suas crenças judaicas em segredo.
Os judeus sefarditas em Campina Grande, como em outras partes do Brasil, trouxeram com eles uma herança rica em tradições religiosas, culinárias, comerciais e sociais. Embora muitas dessas práticas tenham sido adaptadas ao contexto brasileiro, elas permanecem como parte do legado cultural dessa comunidade.
A Influência do Povo Judeu no Crescimento de Campina Grande
O impacto da presença judaica em Campina Grande foi multifacetado e se reflete em diversas áreas, como no comércio, na educação, na cultura e na construção de uma sociedade mais plural e dinâmica. A contribuição dos judeus ajudou a consolidar Campina Grande como um polo de desenvolvimento regional.
1. Comércio e Economia
O comércio foi uma das áreas em que a comunidade judaica teve uma contribuição direta. Muitas pessoas abriram lojas, armazéns e empresas, estimulando o dinamismo comercial da cidade. Estabeleceram negócios em setores como o de tecidos, mercadorias gerais e alimentos, e se responsabilizaram por introduzir novos modelos de gestão empresarial em Campina Grande, como o comércio atacadista e varejista.
A ética de trabalho e a capacidade empreendedora dos judeus também ajudaram a contribuir para a industrialização da cidade nas primeiras décadas do século XX. Muitas empresas fundadas pelos judeus se expandiram rapidamente e tiveram um papel importante no fortalecimento da economia local.
2. Educação e Cultura
A comunidade judaica teve um papel importante na educação de Campina Grande. Para preservar suas tradições e valores, muitos imigrantes judeus estabeleceram escolas e instituições culturais que, além de atender às necessidades da comunidade judaica, desenvolveram para o enriquecimento educacional da cidade. A valorização do estudo, especialmente das áreas de ciência, filosofia e arte, foi uma característica marcante da presença judaica, que influenciou não apenas judeus, mas também a sociedade como um todo.
Além disso, os judeus introduziram aspectos de sua cultura, como a culinária, as tradições religiosas e as festividades, que se integraram ao cotidiano local. A cidade passou a celebrar e outros dados importantes no calendário judaico, que trouxeram um novo colorido para as festas e celebrações locais.
3. Religião e Tradições Judaicas
Embora a comunidade judaica em Campina Grande não tenha sido numerosa, ela se fez presente através de sua sinagoga, suas festas religiosas e sua contribuição para o pluralismo religioso da cidade. A preservação de tradições como o Shabat , as festas de Pessach (Páscoa) e Yom Kipur (Dia da Expiação) foi fundamental para a manutenção da identidade religiosa e cultural judaica em um contexto de assimilação em uma cidade predominantemente cristã.
A culinária judaica também teve um impacto significativo na cultura local, com pratos como o falafel , hummus , challah (pão trançado), e kugel (prato à base de batata) sendo apreciados por muitas famílias campinenses. Essas influências alimentares são um exemplo de como a integração cultural se deu de forma natural ao longo do tempo.
4. Solidariedade e Filantropia
Além do comércio e da cultura, os judeus de Campina Grande também se destacaram por seu trabalho filantrópico. Muitas das famílias judaicas da cidade se envolveram em causas sociais, como o apoio a hospitais, escolas e orfanatos. O espírito de solidariedade e a prática de ajudar o próximo são características profundas da tradição judaica e se refletiram em ações concretas que beneficiam a comunidade campinense, especialmente nas áreas de educação e saúde.
5. Influências Culturais Duradouras
A influência do povo judeu em Campina Grande não se limita apenas ao comércio ou à cultura religiosa. A presença dos judeus contribuiu para a formação de uma identidade mais plural e aberta à diversidade. A música, a dança e as tradições que celebram a liberdade e a resistência judaica também se inseriram na vida social da cidade. Essas influências se refletiram nas festas e comemorações, ampliando o entendimento cultural da população.
Sobrenomes Judeus Encontrados em Campina Grande e na Paraíba
A presença de judeus na Paraíba, especialmente em Campina Grande, também deixou marcas evidentes nos sobrenomes de diversas famílias locais. Muitos desses sobrenomes são indicativos das origens sefarditas (judeus expulsos de Portugal e Espanha) e ashkenazitas (judeus originários da Europa Central e Oriental). Alguns dos sobrenomes judeus que podem ser encontrados
- Abraão – Comum entre as famílias sefarditas, tem uma ligação forte com a figura bíblica de Abraão.
- Benveniste – Sobrenome sefardita que significa "bem-vindo".
- Lopes – Sobrenome Lopes foi adotado por muitos judeus sefarditas
- Pereira – Encontrado em algumas famílias judaicas de origem sefardita no Brasil.
- Almeida– Comum entre judeus sefarditas e amplamente utilizados no Brasil.
- Cohen – Sobrenome de origem ashkenazita, comum entre descendentes de sacerdotes judeus.
- Franco – De origem sefardita, associado aos judeus que migraram para o Brasil durante o período colonial.
- Mendes – Sobrenome típico
- Rosenberg – Sobrenome de origem ashkenazita, comum entre judeus vindos da Europa Central e Oriental.
- Zylberberg – Sobrenome polonês, típico de judeus ashkenaz
Esses sobrenomes continuam a ser encontrados entre as famílias da cidade, representando um elo com o passado judaico de Campina Grande.
Conclusão
A história de Campina Grande não pode ser contada sem considerar a contribuição significativa do povo judeu para o crescimento e desenvolvimento da cidade. Desde o comércio até a cultura, educação e solidariedade, a presença dos judeus ajudou a moldar uma cidade mais dinâmica e plural. Hoje, o legado judaico permanece vivo
Ao valorizar e preservar essa herança, Campina Grande mantém uma conexão com sua rica diversidade cultural, demonstrando como as influências de diferentes povos reconhecidos para o fortalecimento e crescimento de uma sociedade.
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